Faz tempo que não atualizo este blog. Isso porque não gosto
de publicar qualquer coisa que estiver na mídia, bombando nas redes sociais e
sendo o assunto do momento.
Conversando com um amigo, eu levantei uma questão que me
inspirou a criar este post.
Sou apreciador de cervejas especiais e tenho vontade de criar um
estabelecimento que atenda a esse público-alvo.
Aqui em Brasília, ainda existem poucos estabelecimentos
desse tipo, mas existem. Lojas de cervejas especiais e bares que tem em suas
cartas, cervejas de diversos países, de diversos estilos e preços.
Eu, que sempre compro minhas cervejas (diga-se de passagem,
já criei um post sobre esse assunto), não tenho dia, nem hora para degustar.
Não pode ser a qualquer momento. Tem que ser quando eu realmente quero saborear
uma dessas iguarias seculares. Diria até, milenares.
Então hoje (ok, ontem, considerando que já passa de
meia-noite), segunda-feira, resolvi abrir uma cerveja. Eu tenho um ritual para
aproveitar ao máximo. Não é o mais adequado, mas é o que resolve e me satisfaz.
Escolho a garrafa, preparo o freezer, lavo a garrafa e a levo molhada para o
freezer. Acomodo-a bem e a deixo por um tempo, sempre conferindo, virando a
garrafa para resfriar por igual e para não deixar passar do ponto. Quando está
perto de eu retirar a garrafa, coloco o copo, ou a taça, também no freezer,
para que ela gele e fique com aquela camada fina e embaçada. Lindo, isso!
Ao servir a cerveja, preparo a mesa, abro com todo o
cuidado, despejo-a no recipiente e aprecio a formação da espuma. Sinto o aroma,
saboreio levemente e registro com uma câmera, para não esquecer dessa
degustação. Depois disso, busco informações sobre essa cerveja, na internet,
com quem entende, para aprender um pouco mais desse universo. Por fim, aprecio
sem moderação, pois quantidade, nem sempre é qualidade.
Ok. Já babei nesse assunto, agora vou ao que realmente
remete ao tema deste post.
Quando um amigo meu me perguntou: ”fazendo o que?”, falei que
estava esperando uma cerveja ficar no ponto para saboreá-la. “Car@#$o! Hoje é
segunda-feira!”
Como mencionei anteriormente, para mim, não tem dia, e sim,
momento certo.
Por eu apreciar tanto esse universo e por querer, um dia,
abrir um estabelecimento nesse segmento, entramos nesse assunto.
Como ele já sabe que eu penso nisso, começamos a falar sobre
cursos e tudo mais.
Em meio a tantas digitações, mencionei sobre a qualidade e a
criatividade.
Como sou redator publicitário, sempre presto mais atenção
nos detalhes criativos. Se vou a um estabelecimento, observo tudo ao meu redor.
Olho o teto, as paredes, os enfeites, as mesas, o balcão, cardápio... Fico até
parecendo autista, de tão “avoado” que eu fico.
E a criatividade, de fato, atrai as pessoas.
Se um produto não for muito bom, mas tiver uma criatividade
muito boa à frente desse produto, vai vender muito, vai atrair muitas pessoas,
até que os consumidores percebam que aquilo não é tão bom quando a ideia, mas
até lá, vai vender muito!
Agora, quando tem criatividade e o produto realmente é bom,
nunca vai parar de vender... Muito!
Um exemplo, dentro desse mundo que estou abordando, é a
Kaiser.
Pelo menos, na maioria do território brasileiro (e isso, ao
meu ponto de vista), ela nunca foi uma boa cerveja. Aliás, pode-se medir a
qualidade pela temperatura recomendada para se consumir. Quando mais
estupidamente gelada, pior é! Porque uma cerveja de qualidade, não se deixa
quase congelando. A baixa temperatura prejudica o sabor da cerveja. Se a
cerveja não for boa, aí a baixa temperatura ajuda... A disfarçar o seu sabor!
Certo... Mas o que a Kaiser tem a ver com isso?
A cervejaria
Heineken a comprou e tem feito propagandas, falando que agora é a Heineken que
produz a Kaiser. Ainda não me arrisquei a experimentar, mas arrisco a dizer
que sua fórmula não mudou em nada... Continua sendo a velha Kaiser de sempre,
mas como a Heineken está colocando seu nome em jogo, muitos consumidores
passaram a consumir a Kaiser, como uma Heineken mais barata. Até perceberem que
não é bem assim (ou até alguém falar), continuarão comprando.
Com isso, a Kaiser aumentou, consideravelmente, suas vendas!
Outro exemplo, é a cerveja Devassa.
Ela foi comprada pelo grupo Schincariol. Até então, não era
popularmente conhecida. Apenas para quem buscava algo de melhor qualidade. E,
pelo nome, a Devassa já remete à sensualidade da mulher, se referindo à
cerveja. Quando esse grupo a comprou, surgiu, tão logo, a versão enlatada (que
até então, era só em garrafas) e mais popular, chamada de “Bem Loura”. Vendeu
muito, no começo. Até arriscaram a colocar o preço competitivo com as populares
mais vendidas (Skol e Antártica, aqui no DF). Mas as pessoas foram percebendo
que essa Devassa Bem Loura, não era a mesma Devassa das long necks.
Na verdade, trazendo as suspeitas levantadas por um outro
amigo, essa Devassa Bem Loura é, na verdade, a cerveja Nova Schin, com uma “roupagem” da Devassa.
É como se o diálogo entre a Devassa e a Schincariol se resumisse
assim:
- Devassa, bem que poderíamos criar uma versão popular, para
vender no mercado grande. O que acha?
- Eu não vou diminuir a qualidade dos meus produtos, para
entrar nesse mercado!
- Ok. Então, o que você acha de envazarmos a Nova Schin com
a roupagem da Devassa? Aí a popularizamos e colocamos o nome de “Bem Loura”.
- Certo. Vocês compraram a marca mesmo. Façam como quiser.
Hoje, o preço dessa Bem Loura já caiu consideravelmente.
E nem vou entrar no mérito da Sandy, porque esse assunto já está mais do que comentado por aí.
Isso é bem próximo da ideia das pastas de dente:
“Como vamos
conseguir aumentar as vendas de um produto que as pessoas não são tão
consumistas? Oras... Aumente o buraco do tubo!” E não é que funcionou (por um
tempo)? Lembram-se daqueles tubos antigos, de alumínio, com o buraco pequeno
(parecidos com os tubos de pomadas de hoje em dia)?
Pois é... Aumentaram o
buraco e, naquele curto momento, em que houve a mudança, os consumidores,
acostumados a ter que apertar mais para sair a pasta, consumiram mais
rapidamente, as pastas de dente. Isso fez com que as vendas desse produto aumentassem
consideravelmente.
Só depois, quando os consumidores aprenderam a usar
moderadamente, as vendas se estabilizaram. E isso não é coisa da minha cabeça.
Quem falou sobre isso, foi um professor de Marketing que me deu aula na UCB, em
2005/6.
Enfim... O que eu quero dizer, com isso tudo, é que a
criatividade, por si só, faz tudo ficar melhor, mas a criatividade, aliada à
qualidade, faz tudo mostrar o seu melhor. Mostrar mais do que realmente é, só
funciona por um curto período de tempo. No final das contas, quem dita as
regras é o consumidor final, pois é ele quem vai dizer se o produto fica ou se
é melhor dar uma voltinha nos conceitos do bom gosto.
Mas... Tem público para todas as qualidades e produtos, ou
seria melhor dizer, produtos e qualidades para todos os públicos.